Paz e entendimento por meio de viagens e hospedagem

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Bentornata e transformada! SYLE 2008 no sul da Itália

Quando organizava minha viagem para a Itália, no final de outubro, cheguei a estudar frases básicas como “come ti chiami?”, “come stai?”. Quase um mês depois, convivendo com minhas queridas famílias italianas, me atrevi a escrever um texto em seu idioma sobre minha experiência no SYLE (Servas Youth Language Experience) – parcialmente traduzido aqui. Claro, parte da ousadia foi para tentar expressar no idioma local o prazer de conhecer uma cultura tão rica e divertida como a do sul da Itália.

Minha emoção começou quando o argentino Pablo Chufeni, responsável internacional pelo programa jovem do Servas, confirmou minha presença no SYLE italiano. Cheguei a chorar ao ler o e-mail! Para quem pensava em viajar para a Europa em dois ou três anos, a idéia foi bem adiantada. De repente, me vi com dois meses pela frente antes de atravessar o Atlântico.

O Servas oferece a oportunidade de conviver com pessoas que querem dividir sua casa, a convivência familiar e o modo de vida. Mais do que isso, o SYLE oferece um mergulho pelas cidades e a cultura de cada lugar visitado na companhia de moradores locais. É também por causa desse perfil não turístico e pela proposta de conhecer lugares não famosos nos guias de viagens internacionais que estive em Bari.

Como meu vôo estava marcado para chegar em Roma, não pude resistir a conhecer um pouco dessa cidade fantástica, encravada no meio de (e sobre) prédios e ruínas milenares. Por quatro dias, fui acolhida como uma filha na casa de Francesco Tosetto e Patrizia Amore, que moram em um bairro lindíssimo, cheio de árvores e grandes casas. Tivemos um ótimo jantar com seu amigo e vizinho argentino, quando conversamos sobre cinema brasileiro e a origem da língua portuguesa.


Saindo do aeroporto, meu primeiro café da manhã na Itália, com Fabrizio

Na companhia de Fabrizio Sforna, meu primeiro professor de italiano (afinal, foi ele quem me ensinou as primeiras palavras, as primeiras falas e as frases não tão básicas que eu já tinha aprendido em um livro de italiano que um amigo emprestou), fiz passeios noturnos pelo centro histórico de Roma. Comemos panino e bebemos birra (cerveja), que é para não perder o costume. Mas também admiramos juntos a bela paisagem dos recantos romanos, como a isola Tiberina, situada no meio do Rio Tibre, à noite. Fabrizio é um apaixonado por sua cidade, o que facilita um desfrute ainda melhor da viagem. Sentirei falta do suntuoso Coliseu, do extravagante Panteão e das ruínas do Fórum Romano.

Assim que cheguei em Puglia, onde passei três semanas para realizar as atividades programadas para o SYLE, passei o primeiro fim de semana em Polignano e Mare, a cidade do músico Domenico Modugno (da música “Volare ôô, Cantare, ÔÔÔÔ!”), cheia de pequenas ruas, belos prédios de pedra branca e uma vista diviníssima para o mar Adriático, cada vez mais próximo do Mediterrâneo. Estive hospedada na casa de Angela Pirrera e Franco Torres, um casal muito simpático. Angela é inglesa, mas vive há mais de 30 anos na Itália. Ela me ensinou a tomar chá preto com leite. Amei! E também faz uma torta de maçã dos deuses. Inesquecível! Bem, ali começou a comilança italiana. Pão, diversos tipos de queijo, saladas variadas e peixe fresquinho, recém-pescado por Franco, que levantava às 4 horas para ver o sol nascer no seu barco “Inglesina”. Na volta à Bari, nos encontramos com Francesca na casa de Orazio Leggiero, namorado de Lavinia Cozzi, que ofereceu um almoço. Mais e mais comida. Delicioso!

Francesca, minha disciplinada mamma italiana, entoava seu mantra budista todas as manhãs, ao lado meu quarto

Tive dias memoráveis com os Servas de Puglia. Roberto Capezzuto foi meu professor oficial de italiano durante duas semanas, todas as manhãs. Francesca Anaclerio, a organizadora do SYLE em Bari – e também minha mamma italiana, que não me deixava sair de casa com os cabelos molhados --, preparou um jantar para me receber, cheio de amigos de diversas partes do mundo, como Cuba, Irlanda e Argentina.

O povo não parava de ligar para a Francesca para me fazer convites. Geralmente, incluíam comer! Anna Ravalese preparou um almoço em sua casa, situada perto do mar barese. A jornalista Filli Albenese me apresentou o centro histórico de Bari, onde visitei um dos castelos medievais construídos por Frederido II. A jovem Valeria me levou para um vilarejo chamado Torre e Mare, onde conheci sua família, e depois para um jantar com seu namorado Mirko e amigos. Provei da boníssima pizza napolitana-baresa da Casamassima, um outro vilarejo.

Carolina, brasileira, e seu noivo Massimo, italiano, conheceram-se no Servas.
Ao fundo, Luca, filho de Francesca


A agenda cultural foi intensa. Assisti ao ensaio do grupo musical Farauala, que preza pela voz como instrumento musical e valoriza diferentes idiomas e dialetos. Duas das cantoras estudam a língua portuguesa. Acompanhei também um concerto de música clássica na Basílica de São Nicola, patrono de Bari e também inspirador de Santa Claus, o nosso Papai Noel. Estive também na Pinacoteca da cidade com Capezzuto e assisti a dois filmes sobre a pizzica – uma dança tradicional salentina muito praticada no verão – com a brasileira Carolina Borghi. Ela me fez conhecer o Osservatorio Sud, uma associação que se ocupa de estimular os cidadãos comuns a pensar e discutir soluções para o uso racional da água em Bari.



Com Alicia em Alberobelo, em frente às trulli, casas agrícolas feitas de pedra

Durante um fim de semana em Carovignio com a conterrânea Alicia Kostenbaum – que nasceu na Argentina, mas viveu durante 25 anos no Brasil e agora vive há três na Itália – tive um dos meus melhores jantares: uma mesa plena de antepasto, com beringela, queijos, saladas, carnes e, é claro, um vinho para acompanhar. Também passeamos por Ostune, a cidade branca, e Alberobello, onde há as trulli, pequenas casas medievais em formato de cone, feitas de pedra. Provavelmente, eram moradas de agricultores. O senso de humor latino americano de Alícia me deu saudades do Brasil.

Carlo e Marina, meus avós italianos. Ativíssimos, vão todos os dias à universidade

Marina Boccianti e Carlo Battista foram meus avós italianos! Lindos, carinhosos e interessados na cultura brasileira. Durante uma semana, desfrutei de deliciosos almoços, com massa, minestrone, azeite de oliva, pães e queijos e vinho, tudo organizado pela talentosa Marina. Tivemos conversas animadas sobre culinária, costumes e política. Graças à paciência do meu “bravo” professor Roberto, pratiquei o italiano com todos os meus anfitriões (e todos eles me ajudaram muito, sempre me corrigindo e ensinando novas palavras!).

Em uma cidade famosa pela arquitetura barroca, Lecce, situada no taco da bota do mapa italiano e também em uma região conhecida como Salento, vivi a simplicidade bucólica do campo hospedada em uma masseria (casa agrícola típica da região nos anos 1700, grande e situada em meio a vastos terrenos e plantações). Nela, moram o casal Cecilia Mafei e Stefano Todisco. Ela, atriz; ele, musicista, têm a casa sempre cheia de amigos, poesia e música. Como fazia muito frio e chuva no fim de semana, acendemos duas lareiras para esquentar a imensa masseria. Também participei de um almoço tradicionalíssimo no sul da Itália, com as vovós, os filhos e os netos, em uma mesa enorme. Ao todo, em cerca de 30 pessoas.

Celícia me apresentou seu grupo de teatro e o diretor alemão, que fala muito bem o italiano. Também estive com Cecilia e Stefano em uma festa cheia de artistas, para comemorar o aniversário do espaço cultural onde fica o grupo de teatro dela.

Com Stefano, Cecilia e Caroline, minha amiga francesa


Os dias em Lecce foram muito especiais também porque pude reencontrar uma amiga francesa Caroline Capgras, que conheci durante minha viagem na Amazônia, no ano passado. Ela fez a trajetória Orlèans-Paris-Bari-Lecce especialmente para me ver. E foi muito bem recebida por Francesca, Cecília e Stefano, que quiseram conhecê-la e convidaram-na para ficar comigo quando falei de sua vinda. Foi um gesto muito generoso (sem palavras...).

Conheci Gallipoli, uma cidade de nome grego situada próximo a Lecce. Na volta para Bari, parei em Brindisi para mais um concerto de música clássica. E para fechar minhas três semanas em Bari com chave de ouro, organizamos uma noite brasileira, onde fiz uma pequena mostra das minhas fotos da Amazônia, com direito a tradução simultânea! Tive mais um jantar na casa do meu último anfitrião, Roberto Capezzuto, antes de embarcar para Catânia, na Sicília.

Roberto Capezzuto, Valentina (abaixo) e Heloísa! Sua linda família. O Gabrieli, de três anos, já estava dormindo. Esse menino sapeca corrigia o meu italiano com muita propriedade!


Roberto e Lavinia me acompanharam até o embarque para Catania e esperaram meu ônibus sair até o último minuto. É muito amor!

Laura Licari, outra jovem Servas, organizou também um jantar de boas-vindas em Catania. O povo do Servas marcou presença! Isso que eu só ficaria por lá por um fim de semana! Na companhia de Laura e seus amigos, conheci o centro histórico de Catânia, as ruínas datadas de a.C., os castelos medievais e a vista inesquecível para o Mar Jônico, um braço do Mar Mediterrâneo. No domingo, subimos cerca de mil metros do vulcão Etna (são mais de 3 mil metros, no total), de carro e a pé, para ver mais de perto seu pico branquinho de neve.

Com a turma do Servas da Sicília, no jantar de boas-vindas. Eu e Laura, logo à frente

Em meu último dia na Itália, que seria dentro do aeroporto de Roma por praticamente 10 horas, uma surpresa: Fabrizio, meu primeiro professor informal de italiano e grande companheiro de passeios, me pegou no aeroporto para almoçar. Passamos a tarde juntos, comemos pasta com frutos do mar e conversamos muito em italiano. Fiquei feliz porque, desta vez, Fabrizio me compreendia bem e não precisou usar o inglês. Nem eu!

Gostei muito de ser convidada para participar do primeiro SYLE na Itália. Estive muito longe do meu país, mas próxima de pessoas queridas, que me trataram como uma velha amiga. Agradeço à Francesca Anaclerio, sempre disponível e afetuosa, pela impecável organização do SYLE. Também sou grata à Lavinia Cozzi, que me levou de lá para cá com seu carro nos momentos que foram necessários; ao Roberto, pelas duas semanas intensas de lição de italiano; à Carolina, que conseguiu um belo lugar para fazermos a última “serata” italiana, com a exposição de fotos; e a todos os meus anfitriões, pela belíssima receptividade durante o SYLE.

Novembro de 2008 permanecerá na minha memória como uma das melhores experiências de vida, de troca de conhecimentos e de aceitação do outro. Espero por todos no Brasil, de braços abertos!

Grazie!

Débora Didonê Sanches, São Paulo, Brasil

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