Sempre quis conhecer o Brasil. Apesar de ser europeia de formação, sempre olhei para o Brasil com os óculos dos lusófonos africanos. A Angola têm uma grande admiração para esse estado, além da forte influencia cultural e religiosa, e para mim o Brasil sempre foi um imenso território do qual conhecia as grande temáticas como a transformação politica atual, a Amazônia, a musica, mas que nunca tinha intendido qual era, o melhor, quais eram as mentalidades, os modos de viver e de ser que tinha sido as causas desses resultados. O projecto SYLE parecia uma boa oportunidade para descobrir tudo isso e quando no encontro do International Servas Youth Meeting em Instanbul no verão 2008 conheci o coordenador dos jovens Servas Pablo Chufeni da Argentina esse ideia tornou-se realidade.
Cheguei em São Paulo o dia 9 de Augusto 2009, depois de vários meses passados trocando informações com a responsável do projecto Débora Didonê. A minha agenda SYLE era cheia de atividades e agora é muito difícil reassumir tudo... o que omitir e o que não? O programa de quatro semanas incluía São Paulo, nos primeiros dezesseis dias, quatro dias em Rio de Janeiro, a costa Paulista e o estado de Minas Gerais nos últimos nove dias. Já no aeroporto, esperando para o controle do passaporte, tive um exemplo da variedade de de pessoas que moram nesse lindo pais: descendentes de portugueses, italianos, alemães, angolanos, guineenses, nigerianos, chilenos e muito mais. Que riqueza!
As primeiras duas semanas em São Paulo foram elétricas; conheci muitos Servas da cidade e a cidade mesma: Paulo Rosa tomou-me no aeroporto com um lindo papel com o meu nome que me fiz súbito sentir em casa, o coordenador nacional Roberto Boreinstein dou-me a camisola do Servas Brasil, a Ayr Chaves levou-me no super-mercado para conhecer os produtos brasilianos, a Cristina Maitino mostrou-me a Avenida Paulista, centro econômico e financeiro da cidade, a Lucy Braga o Bairro Italiano Bela Vista, o interessante museu da linguá portuguesa, a Pinacoteca e o Museu Imaginário do Povo Brasileiro e muito mais.
As minhas professoras oficiais de português foram Liliam Gelman, Deca Pinto, Andréa Assis, então por qualquer erro gramatical você sabem com quem reclamar! Eu conhecia já o português porque nasci em São Tomé e Príncipe onde morei até os 4 anos. Morei também um ano em Luanda quando tinha 10 anos, mas além desse background, fazia onze anos que eu não falava português. No começo tinha dificuldade com os vocabulos e com algumas conjugações mas pouco a pouco melhorei. Utilizei os termines ´Professores oficias´ porque na realidade todas as pessoas ajudara-me com a linguá, sobretudo para aprender as diferencias entre o português do Portugal e do Brasil (para mim um pouquinho será sempre um bocadinho, por exemplo).
Duas vezes por semana ajudei a ONG "Um Teto para meu País" (http://www.umtetoparameupais.org.br/) que constrói casas de emergência e desenvolve planos de habilitação social com comunidades pobres não só no Brasil mas em toda a América Latina. A ONG é muito dinâmica e eficiente, envolve numerosos jovens voluntários universitários como mim com os quais fiz varies atividades que eram planejadas em agosto, mês de promoção publicitaria da ONG em São Paulo. Com eles tive a possibilidade de ir numa favela e conhecer varias famílias as quais receberam as casas de emergência de madeira ajuntadas pela ONG. Descobrir a cidade foi uma esperiencia increível, sozinha ou com os Servas passeei para vários bairros da cidade, até Crackolandia!
Nos últimos dias a presencia da minha mãe ajudou-me a manter um ritmo de "descoberta" muito elevado apesar da minha parcial fadiga. Com ela fui no Instituto Butantã a ver parte da fauna brasileira, no Museu da Imigração Japonesa e fiz amizade com os organizadores dos passeios noturnos promovidos pela Ação Local Barão de Itapetininga de http://www.vivaocentro.org.br/ (Paulistanos, não se esquece! Todas as quinta-feiras em frente do Teatro Municipal). Os passeios foram sempre muito legais, mesmo quando a causa da chuva não conseguíamos faze-los sempre se encontrava alguma coisa para fazer, um lugar onde ir. Descobri que o centro não é aquele lugar perigoso, sujo que muitas pessoas acham, na realidade é cheio de vida, de prédios antigos muito bonitos e acho seja muito interessante ver toda essa atenção para revitalizar-o.
Numa dessas quinta-feiras de chuva que não dava para fazer o passeio, fomos tomar uma sopinha num restaurante chamado a Varanda no Copan (um prédio a forma de S no centro constrito pelo arquiteto Brasileiro Niemeyer). Lá pela primeira vez senti-me uma cidadã de Sampa (apelido da cidade): tinha acabado de chover e a rua era limpa, os poucos carros (raríssimo!) na estrada lembrava-nos do tempo que passava, sentada numa mesa que ficavam na rua ia falando das próximas eleições presidências brasileiras com pessoas que pareciam os amigos de sempre, muito agradável.
No dia 21 de Agosto tomei pela primeira vez um dos famosos ônibus que atravessam todo o Brasil e foi para Rio de Janeiro. Que curiosidade que tinha! Queria conhecer o Sábado em Copacabana da Maria Bethânia, a Ipanema de Vinícius de Moraes e Antônio Carlos, as danças na Lapa! Acho que o boom de Rio terminou muito tempo atrás mas ainda tem um ar fascinante que só ela. Foi recebida na casa do André Pereira e praticamente adotada pela família toda. Um dia fomos numa ortofruticola e ele comprou todas as frutas brasileiras que eu ainda não tinha comido, nem a Cármen Miranda tinha tantas frutas no seu chapéu! Visitei o centro da cidade, o Museu Histórico Nacional, o Paço Imperial, vi de longe o Palácio da Republica onde Vargas terminou os seus dias. Como amante da musica brasileira, não podia não dançar durante as minhas noites em Rio! O André e a sua mulher Bia me deram a possibilidade de conhecer uma bateria da Escola de Samba da Mangueira, o filho Pedro levou-me no Clube dos democráticos para aprender dançar gafieira e forró. Essa ultima esperiencia foi muito engraçada porque tudo o mundo achava que eu fosse brasileira e grande dançarina, mais fortunadamente consegui não pisar os pés de ninguém!
Depois de ter conhecido dois grandes cidades, fui com a Marita e o Fábio na costa paulista para conhecer Ubatuba, Parati e as encantadoras praias que ficam entre elas. Lá comi o melhor pastel de camarões da minha vida, mas a agua era demasiada fria para uma pessoa acostumada ao quentinho do mediterrâneo. A Marita e o Fábio me deram interessantes aulas sobre a musica brasileira, nunca vou esquecer ir de carro na mata atlântica ouvindo ótima bossa nova, paradisíaco.
Como ultima parada tinha Mariana e Ouro Preto em Minas Gerais onde o Servas Celso me hospedou na sua republica novinha. Ele tinha que trabalhar muito mas uma cidade histórico-universitária como Ouro Preto ofereceu-me muito na mesma, entre uma igreja do Aleijadinho e as visitas nas minas, consegui também ir no teatro para ouvir um grupo percussionista africano.
Como estudante de direito, nesse mês quis pesquisar uma temática de meu interesse que é a propriedade intelectual das sementes transgênicas. Com a ajuda dos Servas e dos meu professores Italianos consegui também encontrar vários expertos nesse campo que ofereceram-me uma visão muitas vezes completamente diferente da aquela que temos nos na Europa.
A musica em geral tive um espaço privilegiado nesse viajem. Lembro a Marina Pacheco de Sampa e a sua Samba da Vela, emocionante, increível! E no final aquela soupinha com ovos de Codorna e dendê lembrou-me tanto da minha Africa! O guitarrista da Camille Costa e os solos de Marcelo Pinto fizeram-me sonhar; danças como a zouk e o pagode mostraram-me a riqueza e a fantasia da musicas e dos dançarinos brasileiros.
Um outro tema que sem querendo conquistou muito espaço no meu programa foi a religião. Budismo, meditação, taoísmo, Candomblé, Umbanda, Igreja Universal de Deus foram argumentos muito apurados. O mais desafiante foi o Candomblé, sobretudo a viajem de regresso de carro depois de ter comido feijoada com farofa de banana as duas da manha com as pessoas que durante o rito tinha recebido os Orixás, não eram loucos, só um pouquinho distráidos. Mais o SYLE é também isso, pelo contrário, é sobretudo isso: viajem, descoberta, surpresa, envolver-se.
Será que seja normal engordar um pouquinho no SYLE? Como Italiana gosto da comida boa e tenho que admitir que em Brasil enlouqueci para os doces, os petiscos, as carnes e os sucos de frutas. Em Sampa tinha o meu botego de confiança onde ia sempre porque o dia não era bom sem o meu putim de leite favorito. A mãe do Paulo, a dona Yvone, fazia concorrencia a minha avozinha italiana cozinhando cada dia um doce diferente! Difícil resistir. E que dizer das vitaminas, os brigadeiros, os pasteis, os churros! Como exemplo de interação cultural um dia a Marita e o Fábio fizeram-me experimentar também a pizza brasileira, muito queijo mas gostosa!
No final acho que o que mais tomou a minha atenção foi a sociedade Brasileira: tendo morado no centro-Africa e na Itália, lugares que tem fortes ligações com o Brasil, quando cheguei não me sentia tão estranha, mas tinha ainda (e ainda tenho) muitas coisas para descobrir. Por exemplo, não sabia que o Brasil era umo stado federal. Sabia da politica, do seu código civil inspirado a aquilo italiano, mas foi muito engraçado descobrir as diferencias entre os vários estados, ouvir o que acham os Paulistanos dos de Rio e vice versa, conhecer indiretamente o norte-este e a sua pobreza, aprender que Sampa tem uma das majores comunidades de japoneses no estrangeiro, que a Alemães no sul. Essas são coisas que não chegam no outro lado do atlântico, são finuras que tem que ser percebidas ouvindo um dialogo no ônibus, o comento de um motorista, falando com a empregada o com a mãe de quatros filhos nas favela. As numerosas visitas em museus e centro culturais também ajudaram a enriquecer a minha bagagem sócio-cultural brasileira, que chegou meio vazia e regressou bem cheia de memorias, lembranças, musicas, filmes.
O Brasil parece ser tudo e nada ao mesmo tempo: construído por meio de uma contradição sobre uma outra, um estremo ao lado dum outro que increivelmente não causam um estado de anarquia mas um instável equilíbrio que continua a progredir. Ri com o filme ´O auto da compadecida´, nunca quis regressar em Rio depois de ´Tropa de elite´, gostaria ver ´O dia em que São Paulo parou´ mas não posso imaginar que tudo aquilo aconteceu realmente. Vi como o Brasil foi presente nas grandes transformações mundiares como os anos 70 com o dvd de ´Os doces bárbaros´ mas também aprendi a definição de analfabetismo funcional. Acho que o espirito positivo, aberto e cosmopolita das pessoas faz que tudo isso seja possível e para mim tudo isso é increível. As pessoas me receberam como uma filha, irmã, amiga de sempre, foram todas extremamente disponíveis e generosas com migo. Dedicaram muito tempo para mim e para as minhas exigências de viageante SYLE sempre entusiastas de mostrar-me novos aspectos do Brasil que ainda não tinha conhecido.
Como pode-se aprender da o meu relatorio, adorei esse mês no Brasil, acabei os adjetivos para descrever quanto gostei dessa esperiencia e das pessoas que ajudar-me a realizar-a. Poderia continuar utilizando as gírias que me ensinaram nas ´lessões de português non-ufficiais´, mas melhor terminar aqui.
A maioria das coisas foram omitidas nessa redação simplesmente em razão da extensão limitada, mas eu ficou rica de lembranças que nunca vou esquecer. Agradeço novamente a Débora Didonê que rendeu tudo isso possível, os anfitriões Deca Pinto, Marcelo Pinto, Paulo Rosa, Celso Guimarães, Marita e Fábio Prates e os day-host que renderam tudo isso extremamente agradável.
>> Maria Olimpia Barros Pinto, 21 anos, estudante de direito, Pisa/Ancona, Italia.
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