Paz e entendimento por meio de viagens e hospedagem

Paz e entendimento por meio de viagens e hospedagem

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Uma jornada repleta de encontros

Ao viajar com anfitriões Servas e também do Couchsurfing e do Hospitality Club, ROBERTO BORENSTEIN teve uma experiência agradável e muito humana

Roberto com Frank e Jean Loup (do Servas), em Lyon, França

Tive a oportunidade de fazer uma viagem de 14/12 a 02/01, visitando as cidades de Genebra (Suíça), Lyon (Franca) e Torino (Itália). Tempo de frio e de neve nesta região dos Alpes. Contrapondo-se ao frio do inverno europeu, nada melhor do que o calor das hospedagens em lares de pessoas de portas e corações abertos. Hospedei-me durante toda a viagem em residências de membros do Servas, do Hospitality Club e do Couchsurfing. Faço parte do Servas desde 1985, e do Hospitality Club e do Couchsurfing desde 2005. Participando destas três organizações, as oportunidades de hospedagem crescem bastante. De um modo geral, não identifico diferenças na qualidade das experiências vivenciadas, tanto me hospedando como sendo hospedado por meio de uma rede ou de outra. A maioria dos anfitriões e dos viajantes que tenho conhecido graças a essas três redes tem sido magnífica e me proporcionado agradabilíssimos e interessantíssimos intercâmbios e conversas.

Para essa viagem, comecei a fazer os contatos buscando anfitriões disponíveis duas semanas antes da data de minha partida. O planejamento com os anfitriões chegou a ser bastante trabalhoso, pois durante aquele período foram diversos os e-mails enviados e recebidos, além de algumas ligações telefônicas. Esse trabalho prévio valeu a pena e, ao partir em viagem, eu já tinha hospedagem praticamente confirmada para todos os 20 dias, além de vários convites para encontros e bate-papos.

Em Genebra, dividi minha hospedagem no apartamento de dois anfitriões: Mounah, do Servas, e Bernard, do Couchsurfing. Mounah, artista, mulher de casa, mãe de quatro filhos que já não vivem mais com ela, vive em luta com o alto custo de vida em Genebra, mora num bairro “cult” atrás da estação de trem. Bernard, francês, estatístico, trabalha em assessoria de pesquisas na Universidade de Genebra e mora num bairro mais chique. Ambos utilizam a bicicleta como meio de transporte principal, mesmo no inverno. E ambos separam todo o lixo de suas casas para reciclagem.

Com Pierre, do Hospitality Club, também em Lyon, França

Em Lyon, dividi minha hospedagem com três anfitriões: o casal Frank e Jean Loup (do Servas), o casal Mainig e Alex (do Hospitality Club) e Louis-Marie e co-locatarios (do Servas). Frank (psiquiatra) e Jean Loup (enfermeiro) formam um casal que vive junto há cerca de 15 anos. De gostos refinados, mudaram-se há poucos anos para uma casa de seus sonhos, num bairro periférico de Lyon. Mainig trabalha num projeto de implantação de um novo museu em Lyon e Alex (psicólogo, nascido na Macedônia) tem mais tempo livre para trabalhar mais nas coisas da casa. Foi um amor sem passaporte, ambos se conheceram quando viviam na Itália. Louis-Marie, por sua vez, é um empreendedor e trabalha em consultoria. Quanto a seus co-locatários, um trabalha em assistência a refugiados e o outro, como professor na faculdade de psicologia. Além desses anfitriões, tive o prazer de conhecer também o Pierre, do Hospitality Club, funcionário público, que guiou um grupo de visitantes daquela organização em uma interessantíssima excursão a pé pelo bairro em que vive. Logicamente, todos separam todo o lixo de suas casas para reciclagem.
Louis-Marie é um ecologista ativista, procura utilizar apenas meios de locomoção não poluentes. Com ele tive uma experiência de uma saída noturna em bicicleta por Lyon, sob chuva e frio. Até aí tudo bem, tínhamos como nos proteger. Mas em nossas conversas ecológicas não fiquei muito convencido quando ele me recomendou não viajar de avião, que é altamente poluente. Quando disse a ele que minha viagem de férias pra Europa se inviabilizaria, ele não foi convincente a ponto de me fazer trocar minha passagem para um barco a vela. :-)

Em Torino, fiquei todos os dias hospedado com o casal Bruno e Lucia, membros do Servas e do Couchsurfing. O Bruno é fotografo, tendo sido já coordenador de listas do Servas Itália, coordenador regional em Torino e membro do comitê executivo do Servas Itália. Por meio do Bruno e da Lucia, conheci outros membros Servas de Torino e região, com quem nos reunimos em diversas ocasiões: Luciano (professor), Fabrizio (recepcionista em hotel), Franca, da cidade de Cuneo, e diversos outros. Conversamos muito sobre muitíssimos assuntos. Com o Bruno, os assuntos nunca se esgotam. Seu jeito de ser e seu humor me faziam lembrar do ator/diretor Roberto Benini.

Com Bruno, uma amiga e Lucia (que tirou a foto), do Servas, em Torino, Itália

Sou muito grato a todos os meus anfitriões e a todas as pessoas que me receberam nessa viagem. Fui tratado maravilhosamente por todas eles, e todos impactaram minha jornada. A lembrança que tenho de todos mistura-se à lembrança dos lugares que visitei.

De volta a meu apartamento em São Paulo, sigo viajando. Alguns dias após meu retorno, tive o prazer de hospedar um casal de viajantes Servas de Neustadt, Alemanha. E, dentro de alguns dias, receberei pelo Couchsurfing um viajante norte-americano. Que bom que existem organizações como o Servas. E que bom que existem redes como o Hospitality Club, como o Couchsurfing, como o Be Welcome, e varias outras redes que promovem hospedagens em residências (homestays). Na minha visão, as organizações que surgiram na era pós-internet incorporam a definição estatutária do que é Servas, servindo também como multiplicadores de vários de seus objetivos. Costumo dizer que o Servas gerou filhos.

-- Roberto Borenstein, anfitrião Servas em São Paulo e ex-Secretário Nacional

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