Me encontro agora em São Paulo, Brasil, desfrutando os dias quentes de verão. Porém, quando fecho os olhos, ainda me vejo caminhando pelas ruas do centro velho de Bari ou sentada diante do mar, observando o horizonte. Sinto-me uma italiana, pugliese na alma, de antepassados do Veneto e da Basilicata, com pequenos pedaços de mim espalhados pela bela Itália – entre as cidadezinhas antigas e os caminhos de oliveiras, tantos lugares incríveis! Choro de emoção. Por favor, sonho meu, não termine!
Sou afortunada porque mantenho toda a experiência do SYLE (Servas Youth Language Experience) e da continuação da viagem (também com membros Servas) ainda viva no meu coração. Cheguei a Bari, em 4 de novembro de 2009, com a mochila nas costas e o desejo de compreender mais esse país tão querido. Falava uma dezena de palavras em italiano – herança familiar – e não conhecia ninguém. Mas, quando parti de volta ao Brasil, de uma Milão repleta de neve, em 21 de dezembro, já podia inclusive discutir com a atendente do balcão da Alitalia, que não queria me aceitar no check-in (pelo cancelamento de boa parte dos voos), usando todos os tempos verbais. Também carregava três quilos a mais na cintura e o coração cheio de novos amigos e de uma imensa felicidade.
Em quatro semanas de SYLE, fui muito bem recebida nos lares de gente maravilhosa da Puglia: Francesca & filhos, Carolina e Massimo; Roberto, Valentina e os filhos Eloísa e Gabriele; Lavinia, Anna Maria e Sara; Giuseppe; Orazio; “papá” Leonardo & Annamaria; Angela e Franco. Como eu gosto deles todos! Permanecia em Bari durante a semana e toda manhã ia até a casa de Roberto, meu querido professor (e amigo de conversas intermináveis), para aulas de italiano. No sábado e domingo, visitava outras cidades vizinhas: Matera, Ginosa, Alberobello, Monopoli, Brindisi, Lecce, Polignano a Mare... Assim, pude ter uma ótima ideia sobre a diversidade da Puglia.
Com Francesca, queridíssima, a organizadora do SYLE
Fiz passeios muito agradáveis com gente tão linda – como Filli, Marco, Gianni & Marilu e a incrível e superdisposta Emilia, uma integrante Servas de 90 anos! Fui convidada a tantos jantares deliciosos (ah, volto a sentir o gosto dos mexilhões gratinados, da mussarella burrata e do vinho gostoso!). E depois, pouco a pouco, acabei conhecendo mais gente Servas e seus amigos: Rosalba, Santina e Franco, Carlo & Marina, Teresa, Diego, Daniele, Vasco & Anna, Alberto Carone, Patrizia, Fabio Romita, Jill, Cinzia & Guido, Angela & Roberto, Francesca & Lino, Silvia, Anna Liuni, Tiziana, e outros que participaram de minha festa de despedida (que, aliás, foi um sucesso!)
Lá, eu falava italiano ou... falava italiano. Ninguém teve pena de mim – e eu os agradeço por isso! Participei de um montão de atividades: workshop de cinema, visita a um “frantoio” para conhecer como se produz o azeite de oliva, ida à Pinacoteca de Bari, visita a um sítio onde se aplica a agricultura biodinâmica, reunião sobre a privatização da água na Puglia, Conferência Servas sobre o Homens de Paz num castelo de Monopoli ... Rosalba me convidou para dar uma palestra sobre comida brasileira na escola em que leciona, em Polignano a Maré, e foi muito interessante. Annamaria, de Brindisi, me colocou em contato com um amigo seu que organizava o lançamento de um livro sobre a Palestina, escrito por um jornalista local, e ele me convidou para dar um depoimento sobre a minha experiência na Cisjordânia. E, graças aos contatos de papá Leonardo, fiquei dois dias e meio em Urupia, uma comunidade de origem anárquica, na região de Brindisi, que me gerou uma reflexão muito rica sobre o “viver junto” e modos alternativos de se relacionar com o mundo. Também organizei, com a ajuda de minha “irmãzinha” querida Carolina, uma tarde à brasileira a fim de contar sobre nosso país e compartilhar algumas de minhas histórias!
Deixei Bari, em 5 de dezembro, com uma vontade imensa de voltar logo. No entanto, minha aventura continuou: fui a Nápoles, com Rosallina Leone, e depois a Montemurro, a cidezinha dos meus bisavós paternos, onde fui acolhida pelo amável e divertido casal Sergio & Antonietta (amigos de Rosallina). Em seguida, fui a Roma visitar Fabrizio Sforna, um grande amigo (nos conhecemos no encontro em Istambul, em 2008), e também me hospedei com a simpática Pina Natale. Por fim, segui para Ferrara, onde estive com meus novos e queridos “primos”, Michele e Diana. Michele me levou para conhecer Begosso, a cidadezinha de meus bisavós maternos (e de onde também vieram seus antepassados). E, como ele é um piloto, fizemos um belo passeio aéreo pelo céu do Veneto sobre a região do Rio Pó. Lindo! Com Diana, fui assistir à peça “Il Vangelo Secondo Pilato”, um dos textos mais intensos que já vi. Entendi tudo, oba! ;-)
Com meu novo "primo" Michele, em visita ao povoado dos bisavós maternos
Enfim, partilhei muito com todos que cruzaram meu caminho. Na verdade, meus novos amigos me abriram não só a casa, mas também – e principalmente – seu coração. Há três palavras que não me canso de repetir: “muitíssimo obrigada” e “saudade” (um sorriso no rosto quando o pensamento se perde entre recordações tão belas, uma presença não-física que se faz sentir tão aqui dentro...). É o que experimento enquanto escuto Fiorella Mannoia e Ivano Fossati, suspirando desde a escrivaninha de meu quarto, com a página de e-mails aberta – “tu mi manchi”, “voi mi mancate”... Quando abro os olhos, vejo todos os rostos amigos da Itália ao meu redor. O sonho se tornou realidade, e o idioma italiano agora me acompanha como a língua da amizade!
Torno presto, amici! Vi voglio tanto bene!
Grazie mile, Servas Itália! Obrigada, Pablo Chufeni, por mais uma oportunidade!
-- Maria Fernanda, Secretária de Paz, anfitriã de São Paulo.
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